Queda é positiva, mas existência de analfabetos ainda é preocupante e um desafio para a Educação
O Dia Mundial da Alfabetização, celebrado em 8 de setembro, é uma data importante para conscientizar sobre a importância da alfabetização e destacar os avanços e desafios enfrentados em relação ao tema.
Dados recentes divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Educação 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais recuou de 6,1% em 2019 para 5,6% em 2022, representando uma redução de pouco mais de 490 mil analfabetos no país.
Essa queda é positiva e representa um avanço significativo na luta contra o analfabetismo, alcançando a menor taxa da série iniciada em 2016. Entretanto, o analfabetismo ainda é um desafio no Brasil, especialmente entre determinados grupos populacionais.
A pesquisa também revelou que das 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever, 55,3% (cerca de 5,3 milhões de pessoas) viviam na região Nordeste do país, e 54,2% (aproximadamente 5,2 milhões) tinham 60 anos ou mais.
Ainda existe uma característica estrutural - quanto mais velho o grupo populacional, maior é a proporção de analfabetos -, o que indica que as gerações mais novas têm maior acesso à educação e são alfabetizadas ainda na infância.
Para Rosaura Soligo, professora, formadora, doutora em Educação e diretora da Rede Latino-Americana de Alfabetização, embora a taxa de analfabetismo esteja em declínio, é preocupante pensar que mesmo uma pequena porcentagem da população no país é analfabeta, dada a importância da linguagem escrita na sociedade atual.
De acordo com a especialista, a capacidade de ler e escrever é essencial para o exercício da cidadania e para uma participação plena na vida social e econômica.
“Não quer dizer que essas pessoas não têm a possibilidade de circular socialmente, de ter um exercício circunscrito na cidadania, que claro é ampliado com a possibilidade do uso da linguagem escrita. Mas é muito grave ter pessoas analfabetas no país em qualquer percentual que seja. Entendo que é um desafio e sempre será enquanto houver analfabetos”.
Rosaura diz que já tentou se deslocar do lugar de alfabetizada, que lê com proficiência, escreve diariamente, para o lugar de alguém que além de não ter isso, não entende as mensagens escritas ao seu redor.
“Em uma dimensão muito menor a gente poderia pensar que é como se estivéssemos na China ou na Alemanha, que são línguas muito distantes. É de um sentimento de desamparo muito grande”.
Os dados da PNAD Contínua revelam que as taxas de analfabetismo ficaram em 16% entre as pessoas de 60 anos ou mais, 9,8% entre as pessoas com 40 anos ou mais, 6,8% entre aquelas com 25 anos ou mais e 5,6% entre a população de 15 anos ou mais.
Para a professora e doutora em Educação, é possível que o grupo populacional de mais idade, que vivem mais atualmente, tiveram muito menos oportunidade de frequentar escola quando eram crianças do que as crianças de hoje, uma vez que foi praticamente universalizado o atendimento escolar.
“Tem um percentual muito pequeno de crianças não atendidas pela escola. E no século passado, houve situações em que mais da metade da população estava fora da escola”, comenta.
Um aspecto que merece atenção, de acordo com a professora, é o analfabetismo funcional, onde a pessoa pode ter aprendido a correspondência entre sons e letras, mas não consegue usar efetivamente a linguagem escrita para leitura e escrita. Esse problema pode ser encontrado em diferentes faixas etárias, inclusive entre os jovens.
No que diz respeito ao desafio da alfabetização nas escolas, a doutora em Educação diz que é fundamental investir na formação adequada dos professores. O conhecimento didático sobre os processos de aprendizagem de crianças, jovens e adultos durante o processo de alfabetização é crucial para garantir um ensino eficaz.
Segundo Rosaura, é necessário que as instituições de formação de professores abordem adequadamente essas questões para que os educadores possam atender às necessidades de aprendizagem dos alunos de maneira mais eficiente e inclusiva.
“A alfabetização é um campo de conhecimento que requer mais estudo, mais cuidados metodológicos no sentido de saber fazer da melhor forma. Isso é muito importante. Os professores têm que ter assegurado o direito de aprender a ensinar os alunos para garantir o direito desses alunos de aprender na escola”.
O Dia Mundial da Alfabetização foi criado em 8 de setembro de 1967 pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A data tem como objetivo ressaltar a importância da alfabetização para o desenvolvimento social e econômico mundial.
Pedagoga com experiência em educação infantil, fundamental e EJA (Educação de Jovens e Adultos), Ana Cristina Gazotto diz que a luta para reduzir o analfabetismo é antiga.
“Lembro que quando me formei, nos anos 90, atuei como professora de EJA e naquela época já existiam políticas públicas com a intenção de suprimir o analfabetismo, porém sem sucesso. De lá pra cá, surgiram muitos programas e projetos que tentaram de uma forma ou de outra, mas que não deram conta de alfabetizar os jovens e adultos que não tiveram sucesso na idade adequada”, comenta.
Para Ana Cristina, o que se tem observado é que o analfabetismo tem diminuído entre jovens, uma vez que a escola básica tem investido em alfabetizar todas as crianças.
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