Professoras se uniram e personalizam um material para impulsionar o aprendizado das crianças de uma aldeia localizada em Peruíbe, São Paulo
A falta de materiais adequados para utilizar no ensino infantil estava dificultando o aprendizado e a aproximação com a cultura local. Essas problemáticas foram o ponto de partida para quatro professoras se unirem e mudarem o cenário da aldeia Tapirema, localizada em Peruíbe, no litoral paulista, em São Paulo (SP).
Com o desejo de impulsionar a educação, as docentes criaram juntas um livro didático em tupi-guarani para alfabetizar as crianças indígenas da comunidade.
A encantadora iniciativa partiu da educadora Karen Villanova, que visitou o local para a produção de um documentário. Durante sua estadia na aldeia, ela escutou uma das professoras locais lamentando o fato de as escolas indígenas não contarem com recursos pedagógicos próprios, que fossem escritos em tupi-guarani.
Foi, então, que surgiu a ideia de produzir um livro didático personalizado para a alfabetização infantil. Karen compartilhou a brilhante ideia com três professoras integrantes do povoado, que se dedicaram planejando cada detalhe da obra.
Um dos receios dos moradores de Tapirema era de que a língua materna não fosse transmitida aos mais novos, justamente pela falta de suporte e incentivo.
A inexistência de livros que tenham sido planejados exclusivamente para atender as demandas educacionais da população indígena, contribui e muito para o surgimento dessas lacunas, uma vez que as crianças acabam ficando, infelizmente, com um acesso bastante limitado ao tupi-guarani.
As próprias educadoras e idealizadoras do projeto explicam que o livro foi elaborado para ser direcionado à alfabetização dos pequenos, justamente com o intuito de impulsionar o aprendizado já na etapa inicial da formação de um aluno.
Para isso, a obra foi baseada em elementos presentes no dia a dia da comunidade. Todo o conteúdo foi cuidadosamente pensado em trazer a cultura indígena, como os animais que habitam a região e os principais pratos culinários que fazem parte do cardápio habitual.
Com o livro didático, as crianças do povoado aprendem a língua e, ainda, são estimuladas a pesquisar a tradução das palavras que ainda são desconhecidas no seu vocabulário, ampliando seu conhecimento e a autonomia no próprio processo de aprendizado.
A produção de todo conteúdo teve início no final de 2019 e, atualmente, a obra já está finalizada, graças ao esforço e dedicação das idealizadoras. Porém, por falta de recursos, o livro didático ainda não foi publicado.
Integrantes da aldeia contam que um pedido foi formalizado na Funai - Fundação Nacional do Índio, mas eles seguem ainda aguardando uma resposta. Enquanto isso, a comunidade já pensa em traçar alguma estratégia para, então, viabilizar o sonho de ver esse rico material em uma versão impressa.
E engana-se quem acredita que esse processo, um pouco moroso para aguardar por uma possível publicação, seja encarado como um obstáculo para a comunidade. Na verdade, muito pelo contrário.
As lideranças afirmam que se sentem orgulhosas e que o livro didático é uma grande vitória para conseguir promover uma melhoria na qualidade do ensino oferecido pelas escolas indígenas.
Além disso, tornou-se uma importante ferramenta, elaborada exclusivamente em tupi-guarani, para alfabetizar as crianças da aldeia, garantindo a sobrevivência da língua materna para as próximas gerações.
Inevitavelmente, a inspiradora história da criação de um material pedagógico próprio para alfabetizar as crianças de escolas indígenas da aldeia Tapirema, localizada em Peruíbe, no litoral paulista, é um convite para refletir sobre a importância do livro didático dentro das escolas.
Afinal, trata-se de um dos materiais pedagógicos mais importantes para o processo de ensino-aprendizagem, não é mesmo? Porém, saber como aplicar essa valiosa ferramenta de maneira eficiente dentro das salas de aula, pode fazer toda a diferença.
Para compreender ainda mais sobre a importância do livro didático para o processo de alfabetização infantil, clique aqui e confira a leitura de um artigo especial que aborda essa temática.
A data 19 de abril é uma oportunidade importante para promover a conscientização sobre os direitos dos povos indígenas, já que eles têm papel fundamental na formação étnica e cultural da população brasileira.
Esse dia também pode impactar como uma inspiração para as escolas, e toda a sociedade, ampliarem os conhecimentos sobre a trajetória desse povo.
Para as instituições de ensino que têm buscado ampliar as discussões sobre esse assunto e desejam cada vez mais deixar de manter a tradição de cultuar as comemorações estereotipadas sobre o Dia dos Povos Indígenas, um passo importante, e bastante simples, é ensinar e instigar os estudantes a pesquisarem a maneira mais respeitosa de se referir aos indígenas.
Como já vem sendo debatido nos últimos anos, as palavras índio e tribo devem ser evitadas, pois são termos pejorativos, definidos pelos portugueses que usavam essas expressões para se referir aos indígenas como pessoas primitivas.
Outro ponto importante é que debates e pautas como essas sejam tratadas constantemente dentro das salas de aula, não somente nesse dia.