É importante que nesse retorno toda a comunidade escolar esteja unida para que as crianças e adolescentes sintam-se confortáveis, seguros e acolhidos
O acolhimento dos alunos na escola é uma ação pedagógica que auxilia bastante a criar uma boa integração entre professores, coordenadores e colegas, além de facilitar o aprendizado e desenvolvimento, ainda mais na educação infantil.
A instituição de ensino tem um papel muito importante na vida de milhares de crianças e adolescentes. Por isso, principalmente nesse momento de volta às aulas presenciais, após tanto tempo de isolamento, é importante implementar um bom plano de acolhimento para que sintam-se protegidos e bem recebidos para esse retorno.
As escolas precisam compreender que os alunos que saíram antes da pandemia, não são os mesmo que estão voltando. Eles passaram por perdas, medos, dúvidas e ansiedade.
“Entender que cada aluno tem suas particularidades é fundamental para que esse acolhimento ocorra da forma mais tranquila possível”, explica Bianca Procopio, professora da disciplina de Habilidades para a Vida, na escola Veredas, e psicóloga infantil na clínica H.A.B..
O respeito e a empatia têm que estar presentes em todos os momentos, pois é preciso entender que podem ocorrer choros. Testes em relação à desobediência e adaptação aos combinados são importantes para que os educadores acolham esses movimentos.
É importante lembrar que algumas crianças perderam familiares por conta da doença e acolher esses sentimentos é fundamental também.
Nas primeiras semanas, os educadores podem realizar atividades coletivas e de acolhimento, de modo que os alunos sintam-se prontos para fazer novas amizades e construir laços com o espaço escolar.
“Atividades lúdicas e dinâmicas são indispensáveis para garantir que a adaptação aos novos colegas e espaço seja tranquila. Brincadeiras que trabalhem cooperatividade, solidariedade e afeto são ótimas escolhas para estes momentos”, comenta a psicóloga.
Todo começo de ano os alunos chegam empolgados e agitados para a escola e esse ano não foi diferente. Como ainda enfrentamos medidas de restrições devido à Covid-19, as instituições de ensino precisam continuar reforçando os combinados em relação aos protocolos estabelecidos pela OMS - Organização Mundial da Saúde.
Faça cartazes interativos e espalhe pelos corredores, relembrando de maneira divertida o que deve ser respeitado, como uso de máscaras, distanciamento social, lavar sempre as mãos ou higienizar com álcool em gel etc.
A escola e a família precisam manter um diálogo vivo sobre o dia a dia dos alunos e uma parceria pautada na escuta e na troca. Cabe às instituições de ensino organizar encontros virtuais ou presenciais com os familiares para estreitar essa relação e compartilhar a rotina.
“Quando a família está segura com a escolha da escola, elas passam mais tranquilidade e segurança aos seus filhos”, comenta Bianca.
A IE precisa estruturar um processo saudável de adaptação e construir junto com os alunos um ambiente acolhedor e que tenha uma comunicação ampla e clara. Isso deixará todos mais seguros e com o sentimento de pertencimento ao universo escolar.
Apresente aos estudantes quais são as equipes responsáveis e, caso precisem, com quem poderão conversar, ajudando o aluno a criar um vínculo. Muitas instituições utilizam os alunos mais velhos para apresentar a escola aos mais novos, e essa é uma ótima ferramenta para garantir um espaço saudável e de troca entre as turmas.
As crianças tiveram muitas perdas cognitivas devido ao isolamento social, já que boa parte do que aprendem vem do convívio social. É indicado que as escolas desenvolvam atividades que possam estimular a cognição e ajudar a recuperar o que foi perdido.
“O sentir das crianças da educação infantil ainda é egocêntrico, ou seja, elas enxergam o mundo a partir de si mesmas. Por isso, atividades que priorizem o social, como roda de músicas, brincadeiras em grupo, momentos de construção coletiva e os cantos com brinquedos não estruturados, são recursos para trabalhar a importância do respeito, de cooperar, ouvir e dividir com o outro”, indica a psicóloga.
Além de afetar a cognição, todas as faixas etárias passaram por perdas significativas em relação aos últimos dois anos. As crianças perderam momentos riquíssimos em relação à socialização e os adolescentes sofreram com a maior autonomia em relação aos seus estudos.
A fase da alfabetização por si só já é uma passagem complicada para qualquer criança. É um momento de evolução, mas que torna-se um tanto quanto desconfortável e precisa de bastante atenção, pois é quando se está aprendendo a ler e escrever, além de socializar com os coleguinhas da mesma idade. Com o isolamento e o ensino on-line, isso se acentuou.
Os professores tiveram o desafio de transformar a casa do aluno em um ambiente alfabetizador e garantir que as trocas tão importantes acontecessem de forma remota.
"As crianças aprendem umas com as outras e na alfabetização isso fica muito mais claro. Por isso os alunos do infantil, primeiro e segundo ano do fundamental, provavelmente chegam à escola com defasagem e precisam de um olhar mais atento dos profissionais", complementa Bianca.
A outra faixa etária que teve grandes perdas por conta da pandemia foi a dos adolescentes entre 12 e 17 anos. Nessa idade ocorrem muitas mudanças corporais e comportamentais, e passar por esse período no meio de uma pandemia e de isolamentos, infelizmente, trouxe muitas dores e afetou a saúde mental dos estudantes.
A professora Bianca fala também que foi visível o aumento da procura de psicólogos para casos de depressão e transtornos de ansiedade em relação aos adolescentes.
Os jovens precisam da convivência em grupos para desenvolver habilidades sociais e testar papéis importantes, como empatia, liderança, amizade, negociação e tantos outros que só são aprendidos na rotina com o círculo de amigos em que estão inseridos.
"Por conta do isolamento social eles só tiveram as redes sociais para testar esses papéis. As escolas precisam se preparar para o retorno desses estudantes e acolher suas dores e angústias", alerta a profissional.
Ter uma escuta atenta para entender e acolher os estudantes é bem importante. Para isso é bom que as escolas consigam transmitir confiança para que todos sintam-se à vontade em compartilhar sobre seus medos, problemas e traumas.
Rodas de conversas sobre os temas são grandes ferramentas para que possam debater o que está acontecendo no mundo e sobre o que eles sentem perante determinado assunto.
Entender as novas gerações é fundamental para um vínculo seguro nessa troca. É importante frisar que hoje em dia, principalmente os adolescentes, estão cada vez mais presentes nas redes sociais do que na vida real. Por meio do mundo virtual eles desabafam e se identificam com pessoas que estão passando pelo mesmo. As escolas precisam ficar atentas às falas que eles trazem.
"Como professora de Habilidades para a Vida, recebi muitas falas dos estudantes sobre como a sua saúde mental foi afetada pela pandemia e muitos pedidos de momentos de discussão sobre esse assunto. Uma aluna chegou a falar que as escolas nesse momento têm que se preocupar menos com os conteúdos e mais com o que os seus alunos estão sentindo. Por isso é fundamental que essas conversas ocorram", propõe e aconselha Bianca.
Com a educação infantil e fundamental 1 uma boa estratégia são os livros de histórias. Há livros excelentes que trabalham questões como medo, traumas, mudanças e dores que ajudam os pequenos a se identificarem e nomearem aquele sentimento. Uma roda de conversa no final da leitura finaliza esse trabalho da melhor forma.
A professora Bianca Procopio deu ótimas dicas de livros que podem ser levados para dentro das salas de aula:
Medo: Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque
Trauma e somatização: Nós, de Eva Furnari
Dificuldade de expressar sentimentos: O homem que amava caixas, de Stephen Michael King
Não julgar os outros: Um porco vem morar aqui, de Claudia Fries
Amizade e a importância de você ser você mesmo: Ana, Guto e o Gato Dançarino, de Stephen Michael King
No Brasil, é obrigatório que a criança esteja matriculada em alguma instituição de ensino a partir dos 4 anos. Por isso muitas famílias com filhos pequenos optaram por retirá-los da escola durante a pandemia e só retornaram quando completaram a idade indicada.
Alguns desses familiares contrataram serviços de professores particulares para realizarem atividades lúdicas para tentar, ao máximo, minimizar as perdas durante esse período, principalmente em relação ao convívio social.
As escolas não podem mais ofertar o ensino a distância, então a família fica responsável por realizar atividades que desenvolvam as crianças. Existem diversos sites com dicas de brincadeiras que podem ser feitas com objetos do cotidiano e que desenvolvem cognitivamente as crianças.
"É fundamental que as famílias não usem as telas como forma de distração para os pequenos. Deixá-los o dia todo em frente a TV ou iPad prejudica seu desenvolvimento e os deixam refém da tecnologia. Incluir as crianças nas atividades da rotina, como ajudar a arrumar a bagunça do quarto ou buscar objetos, ajuda a fortalecer o vínculo familiar e de quebra desenvolve a motricidade, conclui Bianca.
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