Com o ensino domiciliar, as crianças deixam de frequentar a escola e passam a ser educadas pelas próprias famílias. A medida pode impactar a Educação básica
Foi durante a pandemia da Covid-19, principalmente no período de isolamento social e com a suspensão das aulas presenciais, que o assunto ganhou mais notoriedade na sociedade brasileira.
Com o ensino remoto, até mesmo quem nunca tinha escutado falar, certamente passou a ouvir com uma certa frequência sobre o homeschooling, também conhecido como ensino domiciliar ou educação domiciliar.
Nesta modalidade de ensino, as crianças e os adolescentes deixam de frequentar a escola e todo o processo de ensino e aprendizagem passa a ser feito em casa, geralmente pelas próprias famílias.
Porém, o assunto ganhou mais destaque ainda no último mês de maio, quando no dia 19 a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que autoriza o ensino domiciliar no país.
Agora, a proposta ainda precisa ser analisada pelo Senado Federal e se o texto for alterado, volta novamente para votação na Câmara. Do contrário, a medida segue para sanção ou veto do Presidente da República.
Atualmente, a Educação domiciliar não é permitida no Brasil. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os responsáveis legais pelos alunos não têm o direito de tirá-los das instituições de ensino para educar, exclusivamente, em casa.
De acordo com a Aned - Associação Nacional de Educação Domiciliar, atualmente 15 mil crianças e adolescentes, com idades entre 4 e 17 anos, estudam em casa, mesmo sem o ensino domiciliar ainda estar regulamentado.
A estimativa da entidade é que o número de famílias adepta ao homeschooling tenha crescido 55% a cada ano no Brasil. E se o projeto for aprovado, as chances dessa porcentagem aumentar são grandes, o que pode impactar cada vez mais a Educação básica.
Enquanto a Aned argumenta que a prática possibilita que as famílias ofereçam aos filhos uma educação mais personalizada, o que facilitaria explorar as potencialidades e particularidades de cada criança, especialistas temem quanto ao sucesso do processo de aprendizagem.
Nas escolas, profissionais formados, especializados e capacitados conseguem garantir o ensino com qualidade aos alunos, desenvolvendo competências e habilidades a partir de técnicas e ferramentas, com base em uma intenção pedagógica.
Além disso, muito mais do que ensinar a ler, escrever, fazer contas e interpretar textos, as instituições de ensino são um espaço privilegiado para as crianças socializarem com os pares.
Muitas vezes, é na escola que a criança estabelece suas primeiras relações sociais sem ter vínculo familiar, o que contribui para seu desenvolvimento enquanto cidadão.
É neste ambiente, rico e acolhedor, que os estudantes têm a oportunidade de construir competências socioemocionais. Para se aprofundar na temática, confira esse artigo sobre as contribuições da BNCC para a educação socioemocional.
A somatória de todos esses benefícios proporcionados pela Educação escolar são fundamentais para a transformação de uma criança em um adulto, impactando sua vida pessoal e até mesmo profissional.
Com o ensino remoto, durante o período em que as escolas precisaram ficar de portas fechadas na tentativa de conter o avanço do coronavírus, as famílias começaram a ter um maior envolvimento nos estudos das crianças, participando das aulas, auxiliando nos estudos e nas atividades escolares.
Por isso, o termo homeschooling foi bastante difundido nessa época, já que um dos pontos defendidos pelos adeptos ao ensino domiciliar é a participação ativa e atuante da família no processo de educação dos filhos.
Entretanto, há bastante tempo, antes mesmo da pandemia, as próprias instituições de ensino já reconheciam a importância de ter os responsáveis pelos alunos presentes na vida escolar.
Inclusive, estudiosos na área afirmam que os estudantes atingem um melhor desempenho no processo de ensino e aprendizagem quando a família está envolvida nas etapas educacionais.
Manter as crianças matriculadas em uma instituição de ensino não significa estar menos presente. Até mesmo porque a rotina estudantil vai muito além de apenas levar e buscar no colégio.
Quer saber como melhorar seu envolvimento com o aprendizado do seu filho? Então, confira neste artigo dicas valiosas para impulsionar a participação das famílias na vida escolar.
O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados e que será analisado pelo Senado Federal, estabelece que a família que optar pelo ensino domiciliar deve matricular a criança em uma escola, que fica responsável pela manutenção do cadastro, repassando a informação todos os anos aos órgãos competentes de ensino.
A instituição de ensino também precisa acompanhar o desenvolvimento desse aluno por meio de encontros regulares com as famílias e com o educando.
Para o ensino público, isso pode significar uma despesa extra, já que será necessário que a escola fiscalize o processo educacional da criança que faz o ensino domiciliar.
Por outro lado, a regulamentação do homeschooling no Brasil pode impactar diretamente as escolas da rede privada, reduzindo o número de matrículas.
Com o fluxo de caixa abaixo do necessário, as instituições de ensino, principalmente as de menor porte, podem ter dificuldade para manter as despesas.
Como consequência, os professores também podem ser atingidos, caso as escolas precisem reduzir os custos.
Manter um bom relacionamento com os responsáveis pelos alunos é apontado como uma das melhores formas para superar os momentos de crise. Confira esse conteúdo sobre como fortalecer os laços entre sua escola e as famílias.
Antes de existirem as instituições de ensino, tanto no Brasil quanto no mundo todo, o ensino domiciliar era praticado por muitas famílias. As escolas foram se popularizando apenas em meados do século XX.
Entre as décadas de 1960 e 1970, um professor universitário chamado John Holt começou a defender a desescolarização, marcando o surgimento do homeschooling.
Então, nos últimos tempos, a educação domiciliar tem ganhado destaque e passou a ser implementada em diversos países, como Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Itália, Suíça, África do Sul, Japão e Austrália.